Review: It – A Coisa
Por Fernando Booyou Coulrofobia. Medo de palhaços. Se você sofre deste mal, talvez It não seja para você. O ano é de 1989. Na pacata cidade de Derry tudo acontece […]
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Por Fernando Booyou Coulrofobia. Medo de palhaços. Se você sofre deste mal, talvez It não seja para você. O ano é de 1989. Na pacata cidade de Derry tudo acontece […]
Coulrofobia. Medo de palhaços. Se você sofre deste mal, talvez It não seja para você.
O ano é de 1989. Na pacata cidade de Derry tudo acontece dentro da normalidade. Adultos trabalhando, crianças frequentando a escola, e todos respeitando o toque de recolher de 19h, porque essa pacífica cidade do interior também é recorde de desaparecimento de crianças e de incidentes inexplicáveis. Sim, tudo dentro do normal. E apesar de todos alertas e contrariando ordens de adultos, um grupo de amigos nerds decide investigar o que está acontecendo. “Já avisei que vai dar merda isso”, diria Capitão Nascimento. E, ao mesmo tempo, eles precisam lidar com seus problemas do cotidiano, que vão desde bullying até dramas pessoais pesados. O enredo não pega leve nas histórias de fundo. E usa estes traumas para personificar o medo de cada um. Um mal indescritível, que quando não está encarnando seu pior pesadelo, aparece como o palhaço Pennywise (Bill Skarsgård, de Hemlock Grove e recentemente em Atômica). O filme é mais tenso do que assustador. Mas os mais desavisados terão sua dose de susto.
O longa não se contenta em apenas reconstituir figurino e adereços de época. It – A Coisa também é uma homenagem aos filmes aventura dos anos 80. O que, aparentemente, tem sido uma fonte muito utilizada nas produções atuais. Stranger Things e o mais recente Homem-Aranha são assumidos neste quesito. Aqui, a narrativa segue o formato grupo de amigos excluídos que passa por uma grande aventura sem a supervisão de adultos. Como em Os Goonies, Garotos Perdidos, Conta Comigo (que também é de Stephen King) entre outros. O que nos faz pensar como os adultos eram negligentes (ou mais confiantes nos filhos) nas gerações anteriores. Essa atmosfera nostálgica conta com momentos de comédia para aliviar os instantes de tensão. Embora o uso repetitivo de certas construções fazem o humor perder força mais para o final.
No núcleo principal, composto somente por elenco infantil, temos com maior destaque Richie (Finn Wolfhard), o personagem piadista com uma história não tão explorada quanto os outros; Bill (Jaeden Lieberher), o líder gago que passou por uma grande perda; Eddie (Jack Dylan Grazer) o hipocondríaco que é influenciado negativamente pela mãe; e Beverly (Sophia Lillis), que tem a história mais barra pesada envolvendo o pai. Ainda compondo o grupo, temos os representantes judeu Stanley (Wyatt Oleff), o gordinho Ben (Jeremy Ray Taylor) e o negro Mike (Chosen Jacobs). Cada personagem com seus medos pessoais e que se tornam o foco do filme. Nos adolescentes, temos um grupo de desajustados liderado pelo perturbado Henry (Nicholas Hamilton), que se mostra uma ameaça constante para o grupo de amigos. Mais um dos temores que eles precisam enfrentar enquanto são perseguidos pelas representações do palhaço Pennywise. O que também ganha, em alguns momentos, proporções talvez maiores que o personagem carecia ou que a história principal precisava. Embora isso também aumente como mais um dos inúmeros medos retratados ao longo dos acontecimentos.
As crianças seguram bem o desenvolvimento. O não tão conhecido diretor Andy Muschietti (de Mama) conduz com certa maturidade um elenco tão jovem. E enquanto se preocupa em usar referências das obras anteriores (filme/série e o livro), ele também conta com boas equipes de fotografia e de arte que sabem como explorar enquadramentos e cores para criar o clima de constante estado de alerta. Porém, a equipe de continuidade samba em determinados momentos, fazendo o público prestar atenção em alguns erros bobos em vez de focar no enredo. Já a escolha de ano da produção não parece mero acaso. Aparentemente, há um planejamento de algo maior, de se criar uma mitologia sobre este mal. O filme nem lançou e já há previsão de continuação. Ao que tudo indica, se passará nos dias de hoje.
It – A Coisa é uma boa adaptação de Stephen King. Tem os elementos que o autor gosta de explorar, embora que por ele sejam melhores aprofundados. Tem também a aventura infantil que todos gostariam de ter passado e sobrevivido. Apesar de que aqui, a aventura tenha um ar de “não, obrigado. Essa experiência prefiro não passar”. O que é muito bom para quem não gosta de se sentir confortável em filme de terror. Há também lugares comuns que tornam previsíveis alguns acontecimentos. Mas sem perder o desconforto sempre presente para os personagens e, consequentemente, para o espectador. Para quem curte o gênero, não é o filme mais aterrorizante já visto, e ainda assim o público não vai se sentir à vontade. Pior ainda para aqueles que, por algum motivo, têm medo de palhaço. Para estes, não recomendo.
Nota 8,0 de 10.0