Hercules-poster-12jun2014-br

por Daniel Odon

Sob a direção de Brett Ratner, o filme “Hércules” traz uma visão debochada e revisionista da mitologia grega. Um gênero bem adaptado ao estilo de direção de Ratner, cuja obra de maior destaque é o humorado “A Hora do Rush”. Esse trabalho, no entanto, traz no elenco o valioso e popular Dwayne Johnson – que para a frustração de seus fãs abdicou da opulente alcunha The Rock – , no papel de Hércules.

O novo enfoque dado a Hércules surge do romance gráfico (graphic novel) de Steve Moore, estilo narrativo que remonta a HQ, adaptando-a à literatura romancista, contado em prosa de longa duração. Para os espectadores desinteressados na mitologia grega, fica o conforto de que é desnecessário qualquer conhecimento prévio sobre a antiguidade para apreciar esse trabalho cinematográfico, ainda que por menor que seja.

A película se distancia razoavelmente do tradicional conhecimento que temos de Hércules como semi-deus, filho de Zeus. Numa versão inusitada, o guerreiro surge como um mercenário que transcorre os reinos atrás de missões gloriosas remuneradas a peso de ouro. Juntamente com ele –e aqui vem uma peculiaridade – sua equipe de guerreiros auxiliares, com quem trava batalhas lado a lado.

Cada membro do grupo demonstra possuir uma habilidade fenomenal de combate que, coletivamente, agrega e contribui para a imagem e sucesso do grande Hércules. Numa brilhante sacada marqueteira, o inestimável grupo conta também com o talentoso contador de estórias Iolaus(Reece Ritchie), sujeito que incute no espectador que a propaganda realmente é a alma do negócio; que um bom contador de estórias pode tornar um bom soldado em herói mitológico.

O enredo já começa deixando ao espectador algumas perguntas no ar. Sabe-se de início que a família de Hércules foi massacrada, mulher e filhos, mas pouco se sabe as circunstâncias sob a qual ocorreu. Foi esse o trauma que desenvolveu no herói uma apatia pela humanidade e apego à vaidade e riquezas materiais, especialmente ouro. Com isso, alia-se à amazonas Atalanta (Ingrid Bolso Berdal, cuja beleza evoca lembranças de Nicole Kidman rejuvenescida), ao inescrupuloso Autolycus (Rufus Sewell), ao bruxo boa-praça Amphiaraus (Ian McShane), ao selvagem Tydeus (Aksel Hennie) e ao loroteiro Iolaus (Reece Ritchie).

Encomendado pelo Rei (John Hurt), Hércules e seu grupo mercenário adquirem a nova tarefa de lutar contra o guerreiro rebelde Rhesus (Tobias Santelmann), que se supõe movido por um impetuoso desejo império-expansionista por aniquilação. O desejo do Rei, a paz do reino; de Hércules, ouro; e Rhesus, o poder. A junção desses elementos e personagem nos lança ao centro do tribalismo e sórdidas traições que já nos são familiares pelo legado da Game of Thrones-mania. Toda longa metragem, portanto, trilha-se nesse evento, com eventuais usos de flashbacks de cunho explicativo entre cenas, para melhor compreensão do espectador.

Quem espera assistir a uma estória semelhante ao conto mitológico pode ir tirando o cavalinho da chuva, pois a entonação da obra é outra. É sim fiel à perspectiva mais realista e humanizada dada por Steve Moore, a nua e crua desvirtude do homem sem socorro a qualquer apelo divino, tampouco meio-divino! Mas vale como bom entretenimento, sendo recomendado para toda família, sem segregação de idades. Ademais, recomendo assistir até os créditos finais, porque a estória prossegue em quadrinhos na cadência do letreiro, descortinando ao espectador a visão do autor sobre a real natureza dos eventos ocorridos, deixando-nos a mensagem subliminar de que a história se constrói sobre o que se conta e não sobre o que realmente é.

Nota 8/10 

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