por Vitor Caldi

Dois filmes que devem ser assistidos em uma sessão dupla (coisa que eu não fiz ainda): O Ovo da Serpente(diretor: Ingmar Bergman – 1977) e A Fita Branca (diretor Michael Haneke – 2009). Tanto no filme de Bergman quanto no filme de Haneke busca-se descobrir a gênese de um dos regimes políticos mais importantes do século XX, o totalitarismo (no caso do filme, o nazismo).

No filme de Bergman aponta-se principalmente para a questão econômica da época, e a todo momento se dá enfâse aos problemas sociais, ao desemprego, a inflação e a humilhação pela qual passava o povo alemão ao fim da primeira guerra. A história se situa no começo da década de 1920, quanto Hitler dava seus primeiros passos na escalada ao poder. Já no filme de Haneke, a origem do mal é buscada um pouco antes e ele leva em conta a formação do “ethos” do povo germânico para explicar o fenômeno do nazismo. São duas maneiras distintas de olhar para o mesmo problema e duas visões que se completam.

Em A Fita Branca, a história acontece num vilarejo onde estranhos fatos começam a acontecer, e pessoas começam a ser punidas pelos seus “pecados”. As crianças, que são criadas em extrema rigidez religiosa e moral, são as responsáveis pelos crimes e, essa geração criada para a violência e para o preconceito, julgando tudo e todos que não se comportam de acordo com suas regras morais, é a que leverá a maquina do nazismo adiante. A criação cristã extremada dessas crianças seria uma das justificativas para ter o judeu como bode expiatório. No filme de Bergman, o anti-semitismo é apontado como algo já decorrente na sociedade alemã, mesmo nos anos 20. Assim como em obras como A Origem do Totalitarismo (Hannah Arendt), é possível entender que o nazismo não criou o anti-semitismo, mas somente aproveitou o ódio ao povo judaico para criar um inimigo comum. Em O Ovo da Serpente, o personagem Abel (representado por David Carridine, o Bill de Kill Bill) é judeu e sofre humilhações por isso. No final, vê-se vítima de um experimento médico não autorizado. O uso de seres humanos para experimentos em busca de uma realização de algo “maior”, para o bem da raça ariana, é mostrado no filme relembrando os horrores dos experimentos nazistas, feitos pelo famigerado Dr. Josef Mengele (ouça um Slayer aí pra ter uma ideia do que ele era capaz de fazer). O médico responsável pelos experimentos acredita que aquela geração da qual ele fazia parte estava muito velha e muito humilhada para qualquer coisa, mas a nova geração alemã estaria pronta para uma revolução, e pronta para dar início a “maior sociedade da história”.

Os dois filmes terminam somente para nos lembrar o que veio depois dessa origem do mal. No de Bergman, um inspetor zomba de Hitler e de sua tentativa fracassada de começar uma revolução enquanto tomava umas biritas, o famoso episódio do “Putsch da cervejaria”. O de Haneke termina com o início da primeira guerra. As crianças alemãs que passaram pelas humilhações do Tratado de Versalhes estariam prontas para reconquistar sua honra alguns anos depois.

A idéia central dos dois filmes podem ser resumidas nessa citação do filme de Bergman:

“Ninguém vai acreditar em você, apesar de que qualquer um que fizer o mínimo esforço pode ver o que lhe espera no futuro. É como o ovo de uma serpente. Através das finas membranas, pode-se discernir o réptil perfeitamente concebido”.

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