Por Fernando Booyou

É filme de escola, de viagem na europa, de comédia adolescente, de super-herói. Homem-Aranha: Longe de Casa é tudo isso misturado no liquidificador da fórmula Marvel.

(Dividido em duas partes: “sem” e “com” spoilers. Haverá spoilers de filmes anteriores. Spoilers do Homem-Aranha somente no final. Não se preocupe, haverá aviso antes).

O mundo ainda está aprendendo a lidar com os últimos acontecimentos vistos em Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato. Após o retorno daqueles que ficaram 5 anos “apagados” e dos diversos sacrifícios feitos para tornar essa volta possível, todos sobreviventes ainda estão tentando se acomodar com os fatos recentes.

Em meio a tudo isso, Peter Parker (Tom Holland) se encontra perdido como Homem-Aranha, mais ainda após o falecimento de seu mentor Tony Stark (você foi avisado de que haveria spoilers de outros filmes. Homem-de-Ferro morreu no Ultimato para salvar a vida de todos. Não reclame. Apenas agradeça).

Ao contrário dos episódios anteriores, desta vez Peter tenta se afastar do chamado do herói ou, mais precisamente, de se auto-denominar como um Vingador. Agora ele carrega o peso e as cobranças de seguir o legado e ser o próximo Homem-de-Ferro. Mas seu foco é outro. A viagem escolar é o pretexto que o protagonista precisa para se aproximar de MJ (Zendaya). Enquanto programa sua viagem para Europa, ele é requisitado por Nick Fury (Samuel L. Jackson) para mais uma missão, a qual ele tenta de todas formas repassar para outro herói.

Com isso, o longa começa dando uma ralentada, demorando um pouco para engatar nos feitos heróicos que se esperam nos filmes do gênero. O que tenta ser compensado por outros momentos que apresentam lados do cotidiano de Peter e como sua segunda identidade interfere diretamente em sua vida.

Para cobrir o vazio deixado, Peter encontra em Quentin Beck – Mysterio (Jake Gyllenhaal) a figura paterna que havia perdido com a morte de Tony Stark (Robert Downey Jr que, obviamente, não aparece neste filme). Quentin, que se mostra como um poderoso mago, ajuda o herói em sua jornada, enquanto explica a nova ameaça (os Elementais) que veio de sua dimensão para o universo que acompanhamos, que ele diz ser o 616. Por curiosidade, o universo 616 é o mesmo em que se passa todas histórias oficiais nos quadrinhos.

Como adaptação, há uma necessidade de equalizar o que é o personagem para a atual realidade criada para o cinema. Neste aspecto, o diretor Jon Watts volta na continuação com essa difícil tarefa. Por exemplo, nas HQs, Peter não fugiria do chamado do herói, uma vez que ele tem a amarga lembrança do preço que ele mesmo já pagou (o “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” que precede a morte do Tio Ben, tecnicamente, nunca foi mostrado nessa versão. Mas todos nós lembramos do Tio Ben – meme do Tobey Maguire chorando). Mas o diretor e o roteiro exploram outras facetas do herói, como se tentassem nos lembrar que o personagem ainda está em evolução.

O lado cômico, desajeitado, nerd, inteligente (até certo ponto) e heróico do teioso estão presentes. Mas se nas revistas ele utiliza tiradas (muitas vezes) carregadas de sarcasmo para disfarçar ou amenizar o que realmente está sentindo, aqui ele deixa sempre claro que está inseguro e que se sente incapaz de cumprir o papel que foi imposto. Normal quando lembramos que ele ainda está em desenvolvimento. Mesmo com altos e baixos (sem trocadilhos), Homem-Aranha: Longe de Casa encerra com um bom crescimento do herói essa fase da Marvel.

PS.: há 2 cenas pós-créditos. Pode ficar até realmente acabar tudo.

Nota: 8,5/10

##### AGORA COM SPOILERS #####

A partir deste ponto é aconselhável que já tenha assistido ou que não se importe com as revelações. Você foi avisado.

Os universos 616 e 199999

Mysterio afirma que há outros universos e que por uma fenda ele veio parar no mesmo universo do Aranha, que alega ser a realidade 616. Como já foi dito acima, o universo 616 é a realidade oficial dos quadrinhos. E nessa realidade, Mysterio, na verdade, é um vilão canastrão que usa de pirotecnia, efeitos especiais e outros recursos para criar suas ilusões. Uma espécie de versão fake do “Dr. Estranho”. No nosso mundo real, o Universo Cinematográfico Marvel é o universo 199999. Então, obviamente, era tudo mentira do vilão.

Outros também não são quem aparentam ser

Não só o Mysterio enganou a todos (ou quase todos). Durante o filme, vemos que Nick Fury deixa a desejar em suas capacidades enquanto espião. Este tempo todo, Nick estava sendo substituído pelo alienígena Skrull Talos (Ben Mendelshon), visto anteriormente em Capitã Marvel. O verdadeiro Fury estava este tempo todo no espaço. Isso pode indicar que a Marvel realmente pretende expandir o universo espacial, tendo possibilidade até mesmo disso significar o surgimento da E.S.P.A.D.A., divisão da S.H.I.E.L.D. voltada para ameaças vindas de fora do nosso planeta.

O Sentido Aranha

Como Peter ainda está em crescimento como herói, seu famoso “sentido aranha” ainda não foi nominalmente assumido. Acontece, mas ainda em desenvolvimento. É como se nós espectadores estivéssemos “degustando” cada aprimoramento que o personagem poderá passar ao longo de sua jornada dentro do UCM. E isso é explorado de forma cômica, rendendo bons momentos.

Referências que ainda faltavam

Para o deleite dos fãs, vemos pela primeira vez nessa franquia que sim: existe na realidade deste Homem-Aranha o Clarim Diário, jornal em que Peter trabalhou durante muito tempo. E não só isso. Vemos também seu famoso chefe. JJ Jameson reaparece no cinema e interpretado justamente por J.K. Simmons, o Jameson original dos primeiros filmes do aracnídeo de 2002. Saudosismo bateu forte para quem acompanha o “amigo da vizinhança” desde seu início no cinema.

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