Review: Internet – O Filme (2017)
por Fernando Booyou Tudo para ser uma comédia ácida. Mas que acaba sendo cópia daquilo que tenta criticar. No mesmo fim de semana do lançamento de Internet – O Filme, […]
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por Fernando Booyou Tudo para ser uma comédia ácida. Mas que acaba sendo cópia daquilo que tenta criticar. No mesmo fim de semana do lançamento de Internet – O Filme, […]
Tudo para ser uma comédia ácida. Mas que acaba sendo cópia daquilo que tenta criticar.
No mesmo fim de semana do lançamento de Internet – O Filme, obra de comédia/ficção, uma notícia aparece nas redes sociais. “Dupla de Youtubers recebe R$ 65 mil do Governo para falar bem do novo modelo de Ensino Médio”. Isso é vida real. E na tentativa de fazer uma sátira atual das redes sociais, o filme acaba ignorando este lado, se tornando uma paródia que recorre à fórmulas que perduram desde os filmes “Sessão da Tarde” dos anos 80. A notícia dos “Youtubers” evidencia que material para ser um filme esmagador tem de sobra, mas a ficção se contenta em cumprir o objetivo de risos a esmo, usando estereótipos e um formato que parece mais construção de um texto de stand up do que um roteiro para cinema.
Internet – O Filme é uma comédia datada que aborda assuntos atuais. Acompanhamos diversos clichês de web celebridades convivendo em um mesmo espaço-tempo: uma convenção que reúne expoentes das mídias sociais, pessoas que só se preocupam com o número de “curtidas” e seguidores. Todos reunidos no mesmo evento onde haverá uma imensa premiação, a qual só ganha importância no final para dizer que o filme vai acabar. Os “atores”, talvez por vários deles realmente serem web celebridades, acabam sendo cópias ruins deles mesmos, com exceção de uma ou outra personagem. Temos todos os clichês: o popular que tem medo de perder sua fama. O casal menos provável da rede social e que todos apostam e que, sem querer, o popular acaba ajudando ao tentar atrapalhar. A pessoa que não quer a fama e acaba alcançando o estrelato. O casal que faz vídeos com seu animal de estimação. O garoto que, por ser sensação no mundo dos jogos, humilha seus inimigos. E mesmo com Rafinha Bastos (principal responsável pelo filme) fazendo o papel de sua vida como comediante “cuzão” (palavras usadas por ele mesmo), o núcleo que vai causar mais polêmica entre os ativistas desocupados do Facebook é também o mais “lugar comum”, em que temos um grupo de amigos que apostam entre eles para “pegar” a mulher “feia, negra e gorda”, mas que para terminar legal e não parecer óbvio demais, temos a reviravolta esperada de que tudo, na verdade, era um plano da própria mulher, como se isso amenizasse que ela precisou manipular todos para poder ter um homem. Assunto certo para a polêmica do dia na sua timeline. Como no texto de um show para o palco, a preocupação é a piada, não a construção de uma trama elaborada.
Enquanto na vida real tem notícia de Youtubers recebendo dinheiro para propaganda que não pareça propaganda, assunto que já rendeu uma temporada inteira de South Park, Internet prefere o “foca na fofoca“, fazendo humor raso com o que poderia ser manchetes sobre pseudo-celebridades que ocupam as efêmeras linhas dos “Trend Topics” (os assuntos mais comentados naquele instante pelos usuários online). E assim como os “TTs”, as piadas duram apenas aquele momento. O humor é fundado no que ganha notoriedade, tanto na concepção do filme quanto no que é projetado para o espectador. O destaque é debochar com o ridículo que se faz para alcançar ou se manter no topo. Com isso, o filme perde uma excelente oportunidade de se assumir como crítica, se tornando uma mera “zoação” com quem segue este estilo de vida. No texto de stand up, o formato é piada atrás de piada sobre um determinado assunto. Ao aplicar este estilo ao roteiro, você tem diversas esquetes que acontecem em um mesmo universo e no mesmo período de tempo, mas que não se comunicam. Há até núcleos que parecem que existem apenas para alongar o tempo de filme.
Embora o tema seja contemporâneo, a expectativa de um filme atual não se confirma. Quando pegamos como comparação alguns canais online e programas que ocupam a grade de programação até mesmo de TVs abertas, vemos que existem formas de explorar assuntos absurdos com uma resposta ácida. Internet se satisfaz em ser uma representação previsível e forçada da realidade, sem pretensão de correr grandes riscos. O objetivo de fazer rir se cumpre, o que talvez faça o público ignorar a falta de profundidade do filme. E se você não for familiarizado com a temática (que, por sinal, é mais Youtube que a internet em si), pode ser que várias referências passem sem sua compreensão. O filme poderia ter sido genial, mas acaba sendo uma representação dos vídeos “criticados” no próprio enredo, que vemos um seguido do outro em uma tarde de ócio. Relativamente “bom”, até você assistir outro e esquecer do anterior. Próximo vídeo.
Nota: 4/10